https://www.euractiv.com/section/artificial-intelligence/news/ai-act-eu-parliament-walking-fine-line-on-banned-practices/ : "AI Act: Parlamento da UE anda na linha tênue sobre práticas proibidas"
Diríamos por aqui que o Parlamento Europeu está caminhando no fio da navalha.
Realmente, a linha é tênue e tenta separar visões de mundo e das coisas muito diferentes.
Primeira pergunta: em nome do combate ao crime (sob todas as formas), deve-se autorizar violações à privacidade?
Segunda pergunta: em nome da privacidade (e outros direitos fundamentais), devem ser proibidas práticas que parecem indispensáveis para prevenir os crimes?
Estamos passando por uma revolução sem precedentes, induzida pelos avanços da tecnologia (aqui = aplicações práticas de variados saberes científicos em conjunto).
Pode-se falar em revolução porque o impacto da tecnologia na conformação de nossa cultura, inclusive jurídica, e de nós mesmos, como humanos, é imensa. Depois da primeira revolução cognitiva (Harari), ficou conosco a obrigação de nos completarmos tecnologicamente: ampliar nossos potenciais naturais, físicos e cognitivos.
Gastamos muitos milênios ampliando nossos poderes físicos (musculares/força). Ampliamos o homo. As máquinas nos levaram pelos ares, pelo espaço, nos deram mobilidades impensáveis para quem só tinha cavalos para andar por aí.
Agora estamos na era da ampliação da cognição/memória: estamos ampliando o sapiens.
Estamos nos tornando humanos mais completos e realizando nossa missão no mundo. Vencidos os desafios do físico, podemos lutar para quebrar nossas limitações cognitivas.
Com a tecnologia, a "banda virtual" (este mundo pluridimensional que a gente funda!) pode receber e registrar até nossos pensamentos "mais ocultos". E pode recuperá-los, quando quisermos. Essa externalização nos enriquece sobremaneira? Talvez. E traz, claro, imensos riscos. A gente já sofre com isso.
Pois bem: os alemães liberais, no parlamento europeu, pleiteiam máxima proteção contra invasões das comunicações (é um exemplo importante: criptografia ponta-a-ponta autorizada e inviolável![1]). Pensamentos externalizados e, para quem não sabe, registrados. Ainda bem que estão levantando o problema. Mas mexem num vespeiro. Dividem o parlamento.
A extensão de nossa cognição/memória para o espaço virtual (olha o metaverso aí, renascendo, mas claro terá um outro nome!), precisará de amplíssimas garantias contra invasões de todas as naturezas. Inclusive das policiais, feitas em nome de quaisquer coisas. Se queremos registrar o "pensamento" fora de seu âmbito natural, temos de ter garantias máximas a respeito.
O memoryGPT é um exemplo banal, muito primário, das potencialidades que os registros de nossas coisas na banda virtual poderá significar, no futuro. Trata-se, no caso, de comunicação homem-algoritmo (reativa, como dizem os pedagogos).
Sem bancos de dados, sem fórmulas, sem nada, apenas escrevendo ou falando para o algoritmo, a gente registra o que "passou pela cabeça" e, um dia, se quisermos (inclusive porque a memória está comprometida), poderemos perguntar se já pensamos naquele assunto. E lá estarão nossos pensares daquela data, perdidos pela memória natural. Um assombro, não? O que fazer com esses novos poderes da tecnologia?
Já assistimos, nos últimos anos, ao poder da convergência de tecnologias.
A conjunção tecnológica que está chegando, em termos de velocidade, armazenamento e trato de dados, é inimaginável. E vai mudar tudo. Revolucionar.
Teremos de aprender a ser humanos diferentes.
E, pela missão que nos foi dada, seremos "mais humanos" e não menos.
[1] "Os liberais alemães propuseram a introdução de uma disposição proibindo 'o uso de um sistema de IA para monitoramento geral, detecção e interpretação de conteúdo privado em serviços de comunicação interpessoal, incluindo todas as medidas que prejudicariam a criptografia de ponta a ponta'”.
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