Vou repetir a frase mais dita dos últimos tempos: “estamos vivendo em um período de mudanças significativas”.
Isso quer dizer que todas as teorias e conceitos que utilizamos para compreender o mundo estão sendo questionados e reavaliados: liberdade de expressão, comunicação, emprego, democracia - tudo está no pilão e sendo esmagado!
O pior a fazer, nesse cenário, é se apegar a visões ultrapassadas. Morrer crente em coisas, conceitos e paradigmas (Thomaz Kuhn), que já não são mais os mesmos, é como embarcar em canoa furada sabendo do furo.
O marzão, lá fora, agitado e com vagalhões imensos, engole até os mais bem intencionados.
Isso não é novo, embora nunca tenha sido tão intenso.
A história da ciência e da filosofia mostra que as teorias e conceitos que usamos para descrever a realidade estão sempre sujeitos a mudanças, revisões e atualizações.
À medida que novas evidências são descobertas e novas tecnologias são desenvolvidas, precisamos adotar novas perspectivas e novas teorias sobre o mundo natural e social. Esse é o ponto mais relevante.
Nos últimos 100 anos, temos visto mudanças significativas, em várias áreas do conhecimento, como a física quântica, a biologia molecular, a inteligência artificial e a economia comportamental. A engenharia social ganhou ferramentas de IA de potência inacreditável.
Essas mudanças têm desafiado algumas das teorias e conceitos fundamentais usados para entender o mundo desde Newton.
O mundinho, firme e seguro de três dimensões, está sendo invadido por sistemas de apoio à cognição que trabalham com milhares/milhões de dimensões.
De repente, estamos falando todas as línguas e escrevendo até sobre o que não sabíamos nada.
Coisas que vêm das “nuvens” metem-se em nossas vidas, saberes e produções. Nuvens são o nome simplório que damos a esses mundos habitados pelos novos seres de apoio (virtuais). Onde habitam o chatGPT, o BingGPT, e o chatPDF? Nas nossas máquinas fajutas é que não estão, certamente.
A física quântica mostrou que a realidade pode ser muito mais complexa e paradoxal do que pensávamos. Ninguém sabe onde está o elétron pois pode estar em vários lugares ao mesmo tempo. Segundo Heisenberg, a única certeza é a incerteza. O Eintein provou que é possível curvar a luz.
Nossas intuições sobre tempo, espaço e causalidade estão em crise. Na biologia molecular, a descoberta da epigenética tem mostrado que as características dos organismos podem ser influenciadas por fatores ambientais e sociais, além de sua herança genética. O genético acopla-se ao ambiente, natural e social, para garantir a perpetuação do sistema.
A economia comportamental também tem suas pesquisas. As decisões econômicas que tomamos não são racionais. São marcadas por fatores emocionais e cognitivos complexos, por medos muitas vezes infundados, pela notícia de ontem (falsa). Contradizer a teoria econômica clássica é o mais comum.
Chega a ser melhor entregar tudo a um algoritmo, um ser sem emoções, expressão fixada e inalterável de um complexo cognitivo previamente estabelecido por quem entende do riscado. Ele está blindado contra as fakenews da hora. Orienta-se por dados. Um ser “objetivo”, sem subjetividade. Se depois de A deve vir B, virá o B, ainda que um meteorito gigante vá atingir o planeta no minuto seguinte. Essa é a vantagem das máquinas.
Enfim, todas as teorias estão em polvorosa, dando-se conta de que seus esquemas de interpretação do real apresentam anomalias. Certas áreas são receptivas à ideia de mudança e sofrem menos.
Mas há, principalmente entre as sociais e jurídicas (estas as que incorporam modelos regulatórios), as que sofrem muito, agarradas a antigos paradigmas e verdades que são expressão de ideologias demonstrativamente falsas.
A tecnologia ( com ênfase para a IA) está chutando os paus das barracas, provocando correrias e exibindo os que estavam de fora do bom aconchego.
A constatação das anomalias teóricas e jurídicas é válida e importante para reconhecer que nosso conhecimento sobre o mundo está sempre evoluindo e sendo reavaliado.
Temos de cultivar a humildade, como dizia meu professor de metodologia científica. Sabemos pouco e limitadamente acerca de tudo.
Todo saber é fugaz e relativo. Só novas perspectivas nos habilitam para entender o mundo transformado e nossas relações com ele.
(Ilustração BingGPT/Dall-E)
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