sexta-feira, 27 de março de 2020

Empresários e a COVID-19: rearranjar os negócios e preservar os empregos possíveis.

Uma república que tem como fundamento "... IV -  os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;" (CF, art. 1º);"
Ninguém passará ileso pela atual crise. Há segmentos que serão muito afetados. Outros menos. Alguns são evidentes, como o das companhias aéreas. Outros nem tanto. Para mim, por exemplo, um segmento que será muito afetado é o da construção civil. Mesmo que haja crédito disponível (que os bancos podem mesmo disponibilizar com as medidas que o governo implementou), será imenso o desestímulo à assunção de dívidas, neste momento de incerteza global. Quem se sentirá seguro para assumir dívida de vida inteira antes que o mundo novo, pós-corona, mostre sua verdadeira e nova cara?
Os trabalhadores desta área - tradicionalmente uma área que impulsiona a retomada do emprego em todos os países - serão alcançados de maneira dramática.
De qualquer forma, penso que os ajustes necessários, sob o ponto de vista empresarial, para equacionar a relação custo/sustentação e viabilizar a sobrevida da empresa, no nível possível, são uma responsabilidade dos dirigentes. Vão perder muito, mas se não tomarem as providências de ajuste vão perder tudo. Inclusive vão deixar que se percam os empregos que remanesceriam na retomada (sobrevida). Isso vale para todas as empresas e todos os dirigentes.
Dispensas estão ocorrendo no mundo inteiro. Os governos estão assumindo salários (parcialmente, segundo as possibilidades de cada país e por tempo limitado) em troca da conservação do posto de trabalho. Isso demonstra a gravidade da situação e a necessidade de preservar os empregos possíveis.
O constituinte brasileiro foi previdente e muito atual no seu tempo (1988). Sabia-se, já, que sem as iniciativas dos empreendedores, em bases sustentáveis, não havia emprego: a China já iniciara sua ascensão econômica (falta a democracia por lá!), o muro de Berlin estava por um fio (caiu um ano depois) e o império soviético estava com a água saindo por todas as rachaduras. Em todos esses casos, o fato mais marcante foi a reintrodução da crença no empreendedor. O empreendimento já era visto, portanto, como o meio hábil para a geração dos empregos. Por isso, o constituinte escreveu que queria uma República fundada nos valores do trabalho e da livre iniciativa.
É preciso, agora, operar a vontade constitucional com a mesma sabedoria do constituinte e com a responsabilidade recebida. O país espera contar com a boa vontade, o dinamismo e a ação efetiva dos dirigentes empresariais para a superação da crise. Sabe-se que o desafio é imenso mas também que estão habituados aos desafios e vão dar sua contribuição.
Portanto, que os empreendedores, neste momento triste e inédito do mundo, usem sua criatividade e sua competência e tomem as medidas necessárias (1) para preservar o que for possível de seus negócios, por mais duras que sejam as medidas necessárias e (2) para viabilizar novos negócios, aproveitar seu talento e sua disposição de trabalho e ajudar a reconstruir as destruições da pandemia. Por outro lado, aos que compete julgar tais ações de preservação dos negócios, incumbe evitar olhares que não contemplem a totalidade da coisas e olhem apenas uma parte: tais olhares podem induzir erros graves. Uma visão consequencialista adequada deve reger as decisões (LinDB). É preciso animar a recuperação e não fomentar a quebradeira, desestimulando os esforços de conservação do possível pelos dirigentes empresariais.
Enfim, é o que o país não só espera, mas exige dos dirigentes. E suas ações precisam ser julgadas sob essa idéia de indispensabilidade para o bem de todos.

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