segunda-feira, 3 de novembro de 2025

Jamais fomos democráticos



Com orgulho, contribuí com este artigo para o jornal ETR - Estado, Tecnologia e Regulação,  lançado, em 22 de outubro de 2025, na casa da ATITUS, com matérias produzidas pelos alunos do Curso de Doutorado em Direito, da disciplina Estado, Tecnologia e Regulação. Trata-se da  edição inaugural do jornal e traz relevantes reflexões dos integrantes da primeira turma.   

O pano de fundo de inspiração dos autores foram os atuais desafios ligados ao impacto e à regulação da introdução da Inteligência Artificial nos diversos sistemas sociais

A IA, especialmente a IAgen, tem sido vista, por muitos, como uma ameaça à democracia e aos seus fundamentos. Então elegi o tema IA e democracia para minhas reflexões. Parodiando Bruno Latour (Jamais fomos modernos) e recorrendo a Chomsky sobre a noção que, segundo ele, é a mais difundida sobre democracia, forcei-me a perguntar: algum dia fomos, realmente, democráticos? Meu artigo saiu nas páginas 4 e 5 do recém-nascido jornal,  

O artigo completo está aqui: Jamais fomos democráticos!

Lançado apenas em versão impressa, o novo Veículo traz, em seu Expediente, os professores Dra. Salete Oro Boff (Coordenadora) e Dr. José Luis Bolzan de Morais (Titular da disciplina), além dos alunos Júlio César de Carvalho Pacheco (Jornalista responsável) e Júlia Colussi (revisora).  Parabéns a todos. 

domingo, 2 de novembro de 2025

IAgen sem alucinação: segurança no processo judicial









Tive a oportunidade de apresentar, neste mês de outubro passado, na 7⁠ª Edição do SIAJUS (Seminário de IA e Direito), em Brasília , evento da UNB com a ATITUS, promovido pela Assoc. Ibero Americana de Direito e Inteligência Artificialresumo expandido (REVIEW) com o título:

(Clique neste título e acesse o review)

Resumo: "Review do trabalho de pesquisadores de Oxford, publicado na revista Nature, sobre o fenômeno das alucinações da IA do machine learning, notadamente da IAgen. Os pesquisadores detectaram as razões de 80% das alucinações (quadro entrópico probabilístico prévio à ocorrência), denominaram esse subconjunto de confabulações e definiram a otimização heurística e procedimental a ser feita no algoritmo (inclusão de uma função de clusterização com base em implicação bidirecional) para detectar se a entropia é ou não semântica, o que permite prevenir e evitar o problema. Além disso, metodologicamente, explicitaram outras razões do problema das alucinações (os restantes 20%), de que não se ocuparam, mas que são relevantes para fins jurídicos. Elas não dependem do algoritmo, em si, mas do manejo das bases de dados de treinamento e da gestão da supervisão de treinamento." 

Os demais trabalhos foram apresentados em duas salas (1 e 2) e foram desenvolvidos sob inspiração da linha mestra do evento: reunir pesquisadores nacionais, dedicados à temática Direito e Inteligência Artificial,  para a discussão da Resolução 615/2025 do CNJ.

Os dois links abaixo conduzem à Revista Brasileira de Inteligência Artificial e Direito - RBIAD, onde estão disponibilizados os textos dos trabalhos:

Sala 1: https://www.rbiad.com.br/index.php/rbiad/issue/view/10
Sala 2: https://rbiad.com.br/index.php/rbiad/issue/view/11

Além dos trabalhos aí mencionados, uma sequência de palestras, de vários especialistas, trouxe à baila a candente questão da introdução da IA, especialmente da IAgen, no sistema de processo judicial brasileiro, conforme preconizado pela resolução 615/CNJ.
Vale destacar a dinâmica e competente condução/coordenação do prof. Dr Fausto Morais/ATITUS

sábado, 1 de julho de 2023

INOVA JT SUMMIT 23: PALESTRAS/painéis/falas - Vá direto ao ponto!


ABAIXO, os links para acesso rápido a pontos básicos das palestras, painéis e falas do evento.

28JUN23

PRIMEIRA MANHà

CERIMÔNIA DE ABERTURA

1) Des. MARI ELEDA MIGLIORINI - Boas-vindas.
                              https://www.youtube.com/watch?v=DenV43Xydvw&t=465s

2) VIDEO DO INOVA SUMMIT
                              https://www.youtube.com/watch?v=DenV43Xydvw&t=1510s

3) JUIZ BRÁULIO GABRIEL GUSMÃO: Boas-vindas aos participantes
                              https://www.youtube.com/watch?v=DenV43Xydvw&t=1570s

4) JUÍZA RAFAELA SANTOS MARTINS BARBOSA: Mensagem do CNJ.
                              https://www.youtube.com/watch?v=DenV43Xydvw&t=1930s


PALESTRA 1 : WESLEY VAZ: "Os desafios da JT do Futuro" (palestra)
                            https://www.youtube.com/watch?v=DenV43Xydvw&t=2386s

                            Destreza digital: uma necessidade! 
                            https://www.youtube.com/watch?v=DenV43Xydvw&t=4638s
                            Mensagem de Van Gogh:
                            https://www.youtube.com/watch?v=DenV43Xydvw&t=4759s


 PALESTRA 2: CLARISSA STEFANI TEIXEIRA: "Laboratórios de inovação - o que são, para que servem e qual seu papel!" (Palestra) 
                            https://www.youtube.com/watch?v=DenV43Xydvw&t=9035s

                            Macacos 1: como somos? Não penso, não ouço, não falo... 😂 
                            https://www.youtube.com/watch?v=DenV43Xydvw&t=9170s

                           Os empregos e a tecnologia! 
                            https://www.youtube.com/watch?v=DenV43Xydvw&t=9293s 

                            Perder relevância: o destino de quem não inova. 
                            https://www.youtube.com/watch?v=DenV43Xydvw&t=9480s

                            Macacos 2: dominando a macacada!  😂😂😂😂 Divertidíssimo, mas profundo!
                            https://www.youtube.com/watch?v=DenV43Xydvw&t=9515s

Continuarei, ao menos com a tarde do primeiro dia, que foi sensacional também! 




 


    

domingo, 28 de maio de 2023

Faça o que eu faço! Lições do Pe. Hélio José de Simas, S.J.

Capa do livro "O operário e o padre
História da criação do Sinmetal/SC"
 Dias atrás, estive em Criciúma, SC, na festa dos 60 anos de fundação do Sinmetal/SC. Fui muito bem recebido pelos diretores, especialmente Clézio Silveira (tesoureiro) e pelo presidente, João Batista da Silva. 

Hoje acordei lembrando de um momento da festa. Um dos presentes (eram uns 500) chegou-se a mim e disse: 

-Li teu livro sobre a fundação do Sinmetal/SC! - E para provar, ele acrescentou: 

-Gostei da lição do padre limpando o bacio, quando ele puxa a batina pelo meio das pernas

Ele tinha lido mesmo. Transcrevo abaixo o trecho do livro (p. 135-137) porque o considero muiiiiito especial:

                     "Faça o que eu faço!

Na primeira fase de ocupação da sede [do Sindicato dos Metalúrgicos de Criciúma/SC, na década de 1960] da rua Cel. Pedro Benedet, 304, Hélio Simas chegou a residir uns meses no apartamentinho que existia nos fundos da sala grande. Não sei o porquê, mas residiu.

Trabalhando na parte burocrática, eu era pau para toda obra. Com meus doze ou treze anos, datilografava, saía para fazer cobrança, ia ao correio, atendia o pessoal, preenchia as fichas de inscrição.  E, de lambuja, adorava ajudar na farmácia do Círculo Operário, embaixo.

- Sebastião, podias limpar o banheiro para mim? – falou o padre, enquanto estava ocupado com as máquinas dele, a papelada dos cursos e o mimeógrafo.

“Banheiro, limpar, bah...”, pensei comigo. Não gostei nada do alargamento de minhas funções de repente anunciado. Além de auxiliar administrativo, agora eu seria também o faxineiro.  Putz!

- Tá bom, padre. Pode deixar – respondi sem saber o que dizer, enquanto costurava uma desculpa para fugir do malsinado serviço.

Deixei o tempo correr. Quem podia garantir que o banheiro não se limparia sozinho? Banheiro de padre! Deus podia ajudar!

- E aí, Sebastião, vais ou não limpar o banheiro? – perguntou mais alto o padre.

Deus não tinha ajudado ainda, pelo jeito. E o padre estava ficando incomodado. Não teve jeito. Mesmo contrariado, tinha de encarar a limpeza.

- Agora já posso ir, padre!

- O material de limpeza tá lá dentro. Capricha!

Era um banheiro pequeno, típico de sala comercial.  As cerâmicas baratas eram branquinhas e comuns. E o assoalho de azulejo de uma cor só. Ao lado, numa prateleira improvisada, havia uns panos, sabão, uma escovinha e,  encostada, uma vassoura.

Espanei para cá. Espanei para lá. Passei o pano pelo chão com a vassoura. Dei descarga e joguei um produto de limpeza que tinha um cheirinho gostoso. Sequei tudo. Enxuguei bem as laterais da pia e o local onde ficava o sabonete. Pronto! Uma beleza. “Foi fácil”, pensei comigo.  E fui saindo.

- Já? – perguntou o padre admirado.

- Sim, padre. Tá feito.

- Deixa eu ver!

Ai! Ele entrou pelo quarto a dentro e chegou ao banheiro.

- Você  lavou lá dentro do bacio? - apontou para o buraco cheio de água.

- Sim. Dei descarga e joguei o produto. Tá limpinho, tá vendo?

Para mim era o suficiente. Para que perder tempo com aquela parte nojenta do bacio?

- Rapaz, não é assim. É preciso esfregar!

E, aí, ele me deixou com a cara no chão! Pegou a parte de trás da batina, embaixo, pelo meio das pernas, puxou para frente, e enfiou por trás da faixa larga e preta que sempre usava na cintura. Parecia um indiano, só que com a batina preta. Ele fazia isso sempre que precisava fazer algum trabalho braçal.  Fiquei olhando espantado. Vi os sapatos dele, bem de perto, limpinhos e luzidios, a meia preta e a calça. Aí ele pegou o sabão, abaixou-se  e meteu a mão no bacio, lá dentro, para esfregar.

- É assim, rapaz. Tem de lavar mesmo. Esfregar, entendeu?  -  Aquilo eu entendi. Mas não podia entender como aquela mão branquinha, que levantava a hóstia na igreja e, além disso, distribuía aos fieis, podia ser colocada naquele lugar, daquele jeito.

O padre me dera uma lição para vida inteira. Não devemos querer que os outros façam o que nós mesmos não estamos  dispostos a fazer.

- Depois lava bem a mão, aqui na pia, com bastante sabão. Pronto! - Hoje, usam-se as luvas que, na época  e lá, não existiam. 

Ele não me repreendeu. Nem xingou. Ensinou-me, mostrando que não queria de mim nada que ele mesmo não fizesse.

Era o seu estilo e sua visão de vida." [1]

[1] TAVARES-PEREIRA, S. O operário e o padre.    História da criação do sindicato dos trabalhadores metalúrgicos de Criciúma e região.  Florianópolis: Sebastião Tavares Pereira, 2012, p. 135-137.