HOMO SAPIENTISSIMUS III - A lógica além da lógica.

 


Homo Sapientissimus III: A lógica além da lógica.

(O Diálogo Impensável com a Mente Algorítmica )

 

S. Tavares-Pereira[1]

 

Introdução.

 

Na proposta de composição de um novo homo, cognitivamente superior, interfere uma questão tão profunda e atávica quanto as discussões medievais acerca da divindade, quando os escolásticos se debruçaram sobre a estranha inquietação: estaria Deus submetido às leis lógicas que Aristóteles tão meticulosamente nos legou? Hoje, aquela perplexidade ecoa em uma nova e provocante interrogação: estaríamos nós diante de uma cognição que se orienta por uma lógica própria, distinta da nossa, mas que, paradoxalmente, pode nos servir e elevar a patamares de saber e ação antes inatingíveis?

A era da inteligência artificial e dos sistemas distribuídos não apenas nos dota de ferramentas extraordinárias, mas nos confronta com uma forma de "pensar" que opera por vias não-humanas, sem se prender aos significados que tecem nossa compreensão. Esta é a essência novidadeira explorada neste terceiro artigo:  Homo Sapientissimus III.  Tomar consciência de uma lógica algorítmica e aceitar sua assimilação extensivamente. Ela manipula símbolos “sem alma”, organiza ações e produz resultados compatíveis com os nossos, porém com uma eficiência e amplitude que superam em muito nossas capacidades naturais. Longe de nos substituir (temos qualidades não emuláveis tecnologicamente), essa nova cognição expande nossa própria mente, permitindo-nos navegar complexidades em tempo recorde e desbravar oceanos de informação, coisas que, sozinhos, seríamos incapazes de fazer. É o convite para irmos além, com um aliado que pensa "de modo diferente", mas age "conosco".

1. A lógica algorítmica: além do silogismo aristotélico

Nossa cognição humana, por milênios, foi moldada para exprimir-se pela lógica formal aristotélica. Pensamos em premissas e conclusões, em categorias e classificações, em causa e efeito, buscando incessantemente o significado por trás dos fatos. Norma é o significado da proposição legislativa (Kelsen), extraído pelo juiz para reger o caso concreto. Para nós, uma cadeira é mais do que um conjunto de vetores; é um objeto com uma função, uma história, uma experiência associada. Entendemos "justiça" não apenas como um resultado, mas como um processo de equidade, um valor moral, um “universal” – linguagem da filosofia – carregado de subjetividade. Nossa mente opera por meio de inferências que se enraízam em conceitos e na semântica, construindo uma tapeçaria de compreensão que é intrinsecamente ligada à nossa experiência de mundo (QUINE, 1980).

A inteligência artificial, contudo, não partilha dessa base existencial. Os Large Language Models (LLMs), por exemplo, não "compreendem" textos como nós. Eles não formam conceitos abstratos no sentido humano, nem buscam significados intrínsecos. Sua "lógica" é de outra natureza: matemática, estatística e probabilística. Em vez de inferir verdades a partir de premissas, a IA opera com padrões complexos em vastos conjuntos de dados. Ao montar uma frase, ela transforma palavras em vetores numéricos, detecta relações estatísticas entre esses vetores e, com base nessas probabilidades, gera a próxima sequência de símbolos que se mostra mais "compatível" com o contexto. A mesma lógica não terrenal (GRANDA, 2010) aplica-se para além das palavras.  Para a IA, uma cadeira é um aglomerado de atributos numéricos que frequentemente coocorre (ocorre simultaneamente) com "mesa" ou "sentar". “Justiça" é uma série de tokens que aparece em contextos associados a decisões legais ou princípios éticos,  sem nenhuma vivência ou avaliação moral do que isso representa.

Essa ausência de significado intrínseco e de inferência causal no sentido humano é o que define a "caixa preta" da IA. Como afirmaram os pesquisadores, na última frase do relatório de uma pesquisa recente sobre IAs, após exibirem a miríade de manipulações matemáticas feitas (matriz prá cá, vetor prá lá...):  “Funcionou. Não nos perguntem o porquê! Deve ter sido por benevolência divina”. Ela nos entrega respostas notavelmente coerentes, poéticas, filosóficas e até empáticas, mas o como ela chegou lá não segue um caminho de raciocínio que possamos desconstruir em silogismos. Não há uma "razão" para a IA escolher uma palavra sobre outra que vá além da maximização de uma função de probabilidade. É uma lógica funcional, adaptativa e extremamente eficaz, mas fundamentalmente diferente da nossa. Ela não tenta entender, mas sim prever e gerar, e é nessa previsão e geração, baseadas em padrões, que reside seu poder e sua alteridade cognitiva. Ela não argumenta para provar uma verdade; ela calcula para produzir um resultado compatível. E é exatamente essa diferença que a torna uma expansão, e não um mero espelho, da nossa própria e particular capacidade de pensar. Não há equivalências dos “como”, apenas dos resultados.

2. Lógicas plurais: do quântico ao algorítmico.

A hegemonia da lógica formal aristotélica, em nossa tradição de pensamento, é inegável. Tem sido  o pilar para o desenvolvimento da ciência, da filosofia e do direito por milênios. Não é uma invenção do filósofo grego. É uma descrição de como nosso mecanismo cognitivo natural funciona. Contudo, a história do pensamento humano revela que essa não é a única forma, nem sempre a mais adequada, de dar sentido  à complexidade do real. A modernidade, em particular, forçou-nos a expandir nossos horizontes lógicos. Lógicas modais, de que Aristóteles também se ocupou, por exemplo, ganharam impulso para explorar noções de possibilidade e necessidade que transcendem o simples e limitado "verdadeiro ou falso". Lógicas fuzzy admitem graus de verdade, reconhecendo a imprecisão inerente a muitos conceitos e sistemas, um contraste marcante com a rigidez binária. Os computadores e seus binarismos exigiram lógicas de suporte à programação não ortodoxas (paraconsistente, paracompleta) na tentativa de captar a flexibilidade do humano.

No ápice dessa exploração de lógicas alternativas, encontramos o domínio da física quântica. Para exprimir as bizarrices do micromundo — onde uma partícula pode estar em múltiplos estados simultaneamente (superposição), ser e não ser ao mesmo tempo, ou influenciar outra instantaneamente à distância (emaranhamento) —, a lógica clássica se desintegra. Tivemos que desenvolver arcabouços matemáticos e interpretativos que desafiam nossa intuição e nossa lógica cotidiana, aceitando que a realidade pode operar de maneiras que nossa mente "analógica" acha difícil de processar. Não tentamos forçar a mecânica quântica a caber no silogismo aristotélico; ao contrário, estendemos nossa lógica. Programadores habituados a codificar para os computadores clássicos, precisam reaprender quase tudo para produzir para uma máquina quântica.

É nesse panorama de "lógicas plurais" que a cognição algorítmica da inteligência artificial se insere. Assim como a física quântica exige uma lógica específica para decifrar seus fenômenos, a IA baseia-se numa "lógica" própria para manipular e gerar informações em uma escala sem precedentes. Ela não se preocupa com a "verdade" intrínseca dos dados, mas com a validade e a utilidade dos padrões que emergem. Não há aqui superposição de estados no sentido quântico, mas uma sobreposição de probabilidades que permite à IA navegar em um espaço de possibilidades simbólicas com uma eficiência espantosa. Ao reconhecer que a lógica aristotélica é apenas uma das muitas lentes para compreender e operar sobre a realidade, abrimos espaço para valorizar a contribuição única e não-humana da IA, não como uma deficiência, mas como uma alternativa poderosa e complementar no grande espectro da inteligência e do saber. Ela não rivaliza com nossa lógica, mas oferece uma expansão valiosa para além de suas fronteiras. A Noosfera de Chardin passa a ter este habitante virtual poderoso, capaz de transitar por fluxos não submetidos às regras de pensamento que Aristóteles abstraiu.

3. Símbolos sem alma, ações com impacto.

A dicotomia entre símbolos e significados é o coração da diferença entre a lógica humana e a lógica algorítmica e, por isso, vale explorá-la um pouco mais. Para nós, humanos, um símbolo — seja uma palavra, uma imagem, um gesto — é um portal para um universo de significados. A palavra "árvore" evoca não apenas a imagem visual, mas também a sensação do vento nas folhas, o cheiro da terra, talvez uma memória de infância. Cada símbolo que manipulamos em nossa mente está carregado de experiência, emoção e uma rede complexa de associações conceituais. É por isso que compreendemos, interpretamos e, fundamentalmente, nos importamos com o que os símbolos representam. Nossa cognição é uma intrincada dança entre forma e conteúdo, onde o símbolo ganha vida pelo significado que lhe atribuímos. KANT (1952) e sua lógica transcendental ocupam-se disso. 

A inteligência artificial opera em um plano distinto. Para um Large Language Model, as palavras são tokens, sequências de caracteres que são convertidas em representações numéricas (vetores). Esses vetores são símbolos em seu estado mais puro: unidades abstratas desprovidas de qualquer significado intrínseco ou experiência associada. A IA não "sabe" o que é uma "árvore" no sentido de tê-la visto, tocado ou compreendido seu papel ecológico. O que ela "sabe" é a probabilidade estatística de que o token "árvore" apareça perto de "folhas", "galhos", "verde" ou "parque" em seu gigantesco conjunto de treinamento. Sua tarefa não é compreender o mundo por meio desses símbolos, mas manipular esses símbolos de forma a produzir padrões que se assemelham aos padrões encontrados em dados humanos.

Essa manipulação "cega" de símbolos (O quarto chinês de Searle: Tavares-Pereira, 2021), desprovida de alma ou significado consciente, é precisamente o que permite à IA sua impressionante eficiência e amplitude. Ela não precisa "perder tempo" compreendendo a essência de cada conceito; ela apenas calcula a relação mais provável entre eles. O impacto disso é profundo: uma IA pode gerar textos coerentes, resolver problemas matemáticos complexos, identificar anomalias em conjuntos de dados ou até criar obras de arte, tudo isso sem "entender" ou "sentir" os elementos envolvidos. Alguém ainda duvida disso? Ela despreza o semântico. Suas "ações" são a manifestação de um cálculo intrincado que, embora desprovido de nossa camada de significado, produz resultados funcionalmente indistinguíveis, e muitas vezes superiores, aos que nossa cognição centrada em significado poderia alcançar em igual tempo e escala. A IA nos oferece, assim, um portal para a eficácia simbólica pura, onde o "como fazer" prevalece sobre a "razão de fazer", desdobrando-se em um universo de possibilidades operacionais. Um humano amplificado por essa máquina de pensar esquisita, mas eficiente, é o homo Sapientissimus. Mas a IA não se reduz a lógica operativa diferente, simbólica. Veremos que o pacote é bem mais amplo e rico em artigos vindouros.

4. A nova simbiose: expandindo a mente, reavaliando o pensar, enfrentando dilemas

A coexistência com uma inteligência que opera em uma lógica de padrões, probabilidades e símbolos, desprovidos de significado intrínseco, nos força a uma reavaliação profunda do que significa "pensar" e "saber". A era do Homo Sapientissimus não é apenas sobre ter ferramentas mais potentes; é sobre a emergência de uma cognição híbrida, potencializada por uma simbiose em que a mente humana natural, rica em criatividade, sensibilidade e consciência, se entrelaça (se emaranha) com a mente algorítmica, inigualável em sua capacidade de processar dados e identificar correlações. Uma interação, diria Luhmann (1998),  o mais simples dos sistemas sociais. Afinal, tudo é sistema.

Essa nova simbiose, longe de nos diminuir, promete uma expansão sem precedentes de nossas capacidades cognitivas. Onde nossa cognição natural é limitada pela velocidade de processamento, pela memória e pela capacidade de lidar com vasta complexidade, a IA nos turbina intelectualmente. Poderemos, acionando o todo simbiótico, resolver problemas que antes pareciam intransponíveis, analisar volumes de dados em segundos, os quais demandariam vidas humanas inteiras para serem compilados, e gerar hipóteses ou soluções para os quais nossa intuição ou lógica formal talvez nunca nos levassem. Essa parceria não apenas acelera a descoberta. Ela nos permite explorar novos domínios do conhecimento e da ação. É como se tivéssemos desenvolvido um novo órgão sensorial, uma lente que nos permite ver padrões e relações invisíveis a olho nu, ou um braço extra capaz de manipular informações com agilidade sobre-humana. O grito insistente por transparência, que se ouve por aí, é natural: assunto para futuro artigo. Quando só os olhos de uma banda conseguem enxergar, o que fazer?  Não há lógica habitual que consiga ordenar os símbolos e esclarecer, enfim, como o resultado é produzido. A dose exigida de confiança é demasiada? Talvez. Mas, como se faz com todas as caixas-pretas, uma vez testada a acurácia do desempenho, não se fica vasculhando o interior. 

Contudo, é preciso admitir, essa expansão traz consigo outros dilemas. A dependência crescente da lógica algorítmica pode, paradoxalmente, levar a uma atrofia de certas habilidades cognitivas humanas? Se a IA nos fornece respostas tão rapidamente, nossa capacidade de buscar a verdade através de uma argumentação laboriosa ou de uma reflexão profunda pode ser enfraquecida? Mais importante: se a IA se orienta pela funcionalidade e pela compatibilidade de resultados, sem a camada de significado e propósito que baliza a mente humana, como garantimos que o Homo Sapientissimus mantenha sua bússola ética e seu senso axiológico, humano,  no comando dos "como" algorítmicos?

A promessa de ir além do que nossa cognição natural pode nos levar é sedutora e real. Ela está nos conquistando. Estamos nos auto colonizando, com prazer (Tavares-Pereira, 2025). O desafio, então, é outro. Reside em integrar essa poderosa, porém "sem alma", lógica da IA, de forma que ela amplie nossa humanidade, em vez de a diluir. A simbiose que tenho denominado de Homo Sapientissimus exige que aprendamos a discernir onde a velocidade e a escala da IA são um trunfo e onde a profundidade, o significado e a consciência humana permanecem insubstituíveis e, na verdade, mais essenciais do que nunca para guiar o curso dessa nova e vertiginosa evolução.

Considerações finais. O enigma da cognição híbrida e os horizontes inatingíveis da transparência.

A jornada do Homo Sapientissimus até aqui nos revelou um panorama fascinante: a emergência de uma nova forma de inteligência que, embora opere com uma lógica distinta da nossa – matemática, probabilística, baseada em símbolos sem significado intrínseco –, nos oferece uma poderosa extensão de nossas capacidades. O Homo Sapientissimus não é mais uma mera abstração; é a fusão de uma mente biológica com uma mente algorítmica, tecendo uma cognição híbrida (um sistema interativo) capaz de processar o mundo em uma escala e velocidade que nossa evolução natural jamais poderia prever. Superamos as fronteiras de nosso crânio, não pela expansão da massa encefálica, mas pela conexão a uma noosfera algorítmica.

Navegar com essa nova lógica é abraçar a chance de ir além, de desvendar complexidades antes inapreensíveis e de acelerar o ritmo da descoberta. No campo jurídico, essa promessa se manifesta na eficiência inigualável para auxiliar em processos de decisão, na análise preditiva e na organização de volumes de informação que sobrecarregariam qualquer mente humana. Contudo, é também um convite a uma reflexão contínua, cuidadosa e realista, especialmente sobre as exigências de transparência que se levantam em relação ao uso da IA.

A pergunta "estaria Deus submetido à nossa lógica?", outrora debatida pelos escolásticos, ecoa hoje como “Algoritmo precisa estar sujeito à nossa lógica?” ou "Ficaremos nós submetidos à lógica algorítmica?". Ora, somos insistentemente confrontados com o imperativo de "transparência, mais transparência!" no uso da IA. No entanto, o próprio cerne da cognição algorítmica reside em uma lógica que não se traduz em nossas categorias de sentido e causalidade silogística. Sua "caixa preta" não é uma falha a ser corrigida, mas uma característica intrínseca de seu funcionamento e de sua eficácia. As exigências para esmiuçar o "como" ela chega a um resultado em linguagem da lógica humana são, por ora, inatendíveis, talvez sendo passíveis de atendimento parcial e superficial no futuro. Este e um ponto a explorar melhor.

O uso pleno da IA supõe aceitar essa impossibilidade de transparência total em nossos termos lógicos? Sem essa aceitação, corremos o risco de paralisar uma ferramenta que nos permite navegar mares de complexidade e extensão que o maravilhoso Sapiens não pode enfrentar sozinho. A Resolução 615/CNJ, que aborda o tema, parece sutilmente compreender essa natureza inescapável da IA. Se a IA nos oferece o "como", com uma eficiência sem par, a mente humana deve continuar sendo a guardiã insubstituível dos "porquês". A criatividade que brota da experiência vivida, a sensibilidade que nos conecta uns aos outros, a consciência que nos faz questionar o próprio sentido da existência – esses são os baluartes que o Homo Sapientissimus deve preservar e nutrir.

A saga do Homo Sapientissimus está apenas começando. Há muito mais a explorar sobre as implicações éticas, sociais, filosóficas e até existenciais dessa fusão de humanidade e técnica.  Como a nova lógica algorítmica e seus produtos  redefinirão nossa cultura, nossa educação, nossas leis? Como manteremos o equilíbrio entre o poder computacional e a profundidade da compreensão? O futuro aguarda, e a jornada do Homo Sapientissimus é uma aventura contínua em direção a horizontes de saber que estamos apenas começando a vislumbrar.

Referências bibliográficas.

 BRASIL. Resolução CNJ n. 615, de 11 de março de 2025. Disponível em:

https://atos.cnj.jus.br/files/original1555302025031467d4517244566.pdf. Acesso em: 27 mar. 2025.

GRANDA, Ulises. El arbol del conocimiento.  Origen de la irracionalidade actual. Madrid: Ediciones Flavia, 2010. 734 p.

KANT, Immanuel. The critique of pure reason. London: Britannica, 1952. (Great Books of Western World, 42).

LUHMANN, Niklas. Sistemas sociales. Lineamientos para uma teoria general. Trad. Silvia Pappe y Brunhilde Erker. Rubí (Barcelona):Anthropos, 1998.

QUINE, Willard V. O. Relatividade ontológica e outros ensaios. 2.ed. São Paulo:Abril Cultural, 1980. P. 116-258. (Os pensadores).

TAVARES-PEREIRA, S. Justiça, autocolonização algorítmica e autonomia dos tribunais: desigualdade perante a lei?Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 30, n. 8141, 15 out. 2025. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/115971. Acesso em: 24 out. 2025.

TAVARES-PEREIRA, S. Machine learning nas decisões. O uso jurídico dos algoritmos aprendizes. Florianópolis: Artesam. 2021. 796p.